Os casos registrados de infecção pelo vírus HIV aumentaram 2.350% em dez
anos em pacientes entre os 20 e 29 anos na Paraíba. Os dados alarmantes são da
Secretaria de Saúde da Paraíba e mostram que o estado vive uma verdadeira
epidemia do vírus, onde os casos se multiplicam pela falta de prevenção. O
número de mortes passou de 96 para 140 nesse período.
Segundo a Gerente Operacional das Infecções Sexualmente Transmissíveis
(ISTs) /HIV/Aids/Hepatites Virais e presidente do Comitê Estadual de Saúde
Integral da População LGBTT da Paraíba, Ivoneide Lucena, o HIV é o Vírus da Imunodeficiência
Humana que se instala e se multiplica nas células do corpo humano após uma
relação sexual sem camisinha com uma pessoa infectada.
Após a infecção inicial, a doença entra em seu estágio mais avançado, a
Aids, destruindo as células de defesa do organismo, deixando a vítima
suscetível a outras infecções, com risco bem maior de complicações de saúde.
Dados alarmantes
Além dos casos entre pessoas de 20 a 29 anos, os dados gerais da Saúde
Estadual também revelam um quadro preocupante. Em 2007, foram registrados 287
casos de Aids e 25 de HIV na Paraíba. Já em 2017, foram 356 casos de Aids,
aumento de 24%, e 640 de HIV, aumento de 2.460%.
No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, 3.328 casos de Aids foram
registrados entre jovens de 15 a 24 anos e em 2017 foram 4.877 casos, um
aumento de 46,54%.
Medo da doença não existe mais
Para Ivoneide, a equivocada perda do medo de ser infectado pelo HIV e
desenvolver Aids é ligada aos avanços medicinais, já que o desenvolvimento de
medicamentos que combatem o vírus em um estágio inicial faz com que os jovens
mantenham relação sexual sem camisinha cada vez mais frequentemente.
“Antigamente o diagnóstico de HIV estava diretamente ligado à morte.
Agora, os medicamentos que combatem a infecção fizeram com que os jovens
perdessem esse medo, já que eles confiam que uma relação sem camisinha sempre
pode ser consertada com os medicamentos. Mesmo que os medicamentos tenham
efeito muito alto (96% de chance de eliminação do vírus em até 72 horas após a
relação sem camisinha), o risco a que eles estão se expondo é muito grande”,
afirmou Ivoneide.
Papel da família e a educação sexual
Parte importante na construção de diálogo com os filhos sobre o HIV,
muitos pais têm se furtado desse papel e contribuem indiretamente para a
explosão do vírus.
Ao Portal Correio, a psicóloga Ana Sandra Fernandes alertou
que um dos fatores que contribuem para o aumento de casos de HIV é a diminuição
das campanhas governamentais sobre o tema, fazendo com que a população esqueça
da importância do uso do preservativo. Entretanto, o debate familiar é um dos
principais fatores para uma educação sexual correta.
“É muito importante que os pais conversem com seus filhos, o perigo é
real. As primeiras orientações precisam vir da família para que os adolescentes
e os jovens tenham consciência da importância da prevenção ao HIV. Se a família
não abordar o assunto, com medo de que falar sobre sexo, vai incentivar os
filhos a manter relações cedo; o jovem busca outras fontes que nem sempre são
confiáveis e isso é um problema, pois ele poderá ser informado erroneamente e
se expor a riscos”, disse a psicóloga.
Porém, em muitos casos, a abertura de diálogo entre pais e filhos
torna-se um monólogo, em que pais e mães não promovem a orientação e apenas
impõem o assunto sem o devido debate ou esclarecimento das dúvidas.
“A gente tem visto muita dificuldade das famílias em falar com os jovens
sobre sexualidade, prevenção e retirada de dúvidas. Se um filho pensa em
procurar o pai ou a mãe pra falar sobre sexo, mas imagina que eles serão
grosseiros, ele desiste dessa procura. É preciso criar um clima familiar para
que os filhos se sintam à vontade para perguntar, esclarecer dúvidas, sem
nenhum tipo de censura. Os filhos precisam confiar e ter segurança nos pais e
isso não acontece da noite para o dia, é uma construção familiar que depende
muito mais dos pais”, afirmou Ana Sandra Fernandes.
Onde buscar ajuda
De acordo com Ivoneide Lucena, em suspeita de infecção após uma relação
sem camisinha ou em que o preservativo tenha estourado, a população pode buscar
ajuda em postos de saúde para a realização dos testes rápidos de HIV. Porém, o
resultado não é conclusivo.
“Na época pós-festa, como depois do carnaval, contabilizamos aumento de
200% na procura pelo teste rápido de HIV. É importante lembrar que um
diagnóstico fechado sobre infecção ou não só pode ser dado 29 dias após a
relação sexual suspeita”, falou Ivoneide.
“No tratamento profilático, o paciente precisa buscar as unidades em até
72 horas após a relação sexual e toma medicação por 30 dias, que é para evitar
que o vírus se replique. Esse tratamento tem 96% de chance de dar certo. Já as
pessoas que possuem o HIV, tomam uma medicação que dá uma qualidade de vida
boa”, concluiu Ivoneide.